Fim da Linha da Economia Tradicional!…
As ideias que nos inspiram, empoderam e promovem em nós esperança, animo, optimismo e vontade de avançar, encontram-se nos canais alternativos de informação.
O documentário “Inside Job” mostra-nos a verdade por detrás da crise financeira global de 2007-2012 cujo impacto se faz sentir atualmente. É um filme sobre “a corrupção sistémica dos Estados Unidos pela indústria de serviços financeiros e as suas consequências.“
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Prof. Franz Hörmann: “Society 2.0 – Entering a World Without Money”
Professor no departamento de Fiscalidade das Empresas e Planeamento Tributário, do Departamento de Contabilidade da Universidade de Economia e Administração de Empresas, Viena.
OUTRAS SOLUÇÕES:
Encontros como este mostram claramente que muitos economistas antevêem o fim da economia tal como a conhecemos e promovem a reflexão sobre o assunto. Por isso é imperativo avançar com outras soluções e não nos devemos alhear, mas assumir a nossa responsabilidade individual.
Foi exatamente esta crise que funcionou como fator desencadeador desta “Emergente Economia Colaborativa” cuja regulação está nas mãos dos cidadãos em vez da Banca. É sobre isso que quero falar um pouco porque nos mostra um possível e promissor caminho!…
Confiança e a Economia Colaborativa!…
ECONOMIA do CONSUMO COLABORATIVO?!…
Consumo colaborativo é uma nova prática comercial que possibilita o acesso a bens e serviços sem que haja necessariamente aquisição de um produto ou troca monetária entre as partes envolvidas neste processo. Compartilhar, emprestar, alugar e trocar substituem o verbo comprar no consumo colaborativo.
A ideia existente por trás do consumo colaborativo vai ao encontro das principais questões e tendências deste início de século XXI:
- Novas configurações sociais decorrentes do advento da internet e do relacionamento em rede;
- Preocupação com o meio ambiente e valorização de hábitos mais sustentáveis;
- As recentes crises económicas de impacto global promoveram uma forte insegurança em relação ao modelo económico do século XX;
Com o desenvolvimento das novas tecnologias, a NOÇÃO de POSSE e/ou PROPRIEDADE perdem sentido perante a OPORTUNIDADE de ACESSO. Num ambiente em constante mudança, onde as informações e os produtos se tornam rapidamente obsoletos, a ideia tradicional (crença) de possuir algo deixou de ser vantajosa. Ter acesso ao que se deseja apenas durante o tempo que for necessário é uma atitude mais dinâmica do que estabelecer compromissos (créditos, leasings, etc…) e assumir com as responsabilidades a longo prazo que essa aquisição e posse acarreta. Esse tipo de consumo baseado na PARTILHA agrega valor à experiência em detrimento apenas do ter.
Ao buscar experiências e não somente objetos de compra, os consumidores estão mais voltados à satisfação de sua necessidade e ao real objetivo que uma troca comercial possui. No consumo colaborativo, a estrutura da oferta e da procura não é tão rígida e limitada como na compra tradicional: não há moeda fixa na “troca direta” nem posse única ou total de um objeto. A prática comercial no consumo colaborativo é uma interação entre partes interessadas em ter acesso ao que o outro oferece. Toda esta configuração mostra-se compatível com as relações que estabelecemos na internet, numa comunicação que deixou de ser “frontal” (frente a frente), mas na qual ocorre produção de conteúdo de ambos os lados: todos são receptores e emissores ao mesmo tempo. Essa estrutura comunicativa da internet migrou para o mundo dos negócios na forma do consumo colaborativo: deixou de haver uma separação entre o vendedor e o comprador, mas uma relação mútua de “troca” entre partes.
Outra tendência atual que está diretamente relacionada com o surgimento desse novo tipo de comércio é a preocupação com o meio ambiente e a preferência por atitudes mais sustentáveis, que atendam às necessidades dos consumidores sem causar tanto impacto na natureza. Por meio do consumo colaborativo:
- Tem-se acesso a uma maior gama de produtos sem que haja necessidade de aumentar a produção dos mesmos;
- Os produtos são partilhados, reutilizados ou pertencem a uma coletividade e não apenas a um indivíduo.
A princípio, pode parecer que o consumo colaborativo acarreta uma desvalorização do dinheiro, mas isso não é necessariamente verdade. O aluguer de diferentes tipos de bens e serviços já se constitui como oportunidades de negócios milionárias, principalmente no mercado norte-americano. Sites de aluguer de produtos e serviços são negócios lucrativos, que movimentam a economia tal como as práticas tradicionais de comércio. As relações sociais influenciam a ação, os resultados e as instituições económicas.
O consumo colaborativo não traz apenas ganhos à economia, sendo também responsável por mudanças na condução dos negócios e posicionamento das empresas. Neste novo contexto, o marketing não está mais focado no produto, mas no que ele representa para o consumidor e em quais experiências ele pode proporcionar.
Rachel Botsman:
Na sua apresentação mostra como é que sites como Zipcar e Swaptree estão a mudar as regras do comportamento humano.
Estudo quantifica a realidade do Movimento da Economia da Partilha.
TOP 5 BENEFÍCIOS RACIONAIS:
- FINANCEIRO: Permite-me economizar dinheiro;
- AMBIENTAL: É bom para o ambiente;
- ESTILO DE VIDA: Permite-me mais flexibilidade;
- ESTILO DE VIDA: É prático;
- ENSAIO: (…);
TOP 5 BENEFÍCIOS EMOCIONAIS:
- GENEROSIDADE: Posso ajudar-me a mim e aos outros;
- COMUNIDADE: Faz-me sentir como membro valioso na comunidade;
- ESTILO DE VIDA: Faz-me sentir inteligente;
- ESTILO DE VIDA: Faz-me sentir mais responsável;
- CULTURAL: Sinto-me pertencer a um grande movimento cultural.
PÍLULA DA CONFIANÇA – INGREDIENTE CHAVE PARA A COOPERAÇÃO:
A confiança é um forte aspeto que pode comprometer a Economia de Partilha (EP). A EP define-se em termos gerais como o encontro de 2 pessoas que não se conhecem entre si, efetuam um negócio conjunto e normalmente não se voltam a encontrar. A nível local, este pode não ser o caso porque devido à proximidade pode haver interesse mútuo em promover outros reencontros. Obviamente que a 1.ª questão que surge é: e se o outro não cumpre a sua parte?; E se ou apartamento não está em condições?; E se o outro não envia o produto como prometido? Ou seja, a confiança é um elemento chave porque:
- As pessoas não se conhecem;
- Como podem eventualmente não se voltar a encontrar, à priori pode não haver consequências de uma das partes se comportar de forma ética não cumprindo com a sua palavra;
- Podem-se esconder atrás do possível anonimato e distância para se aproveitar da situação.
Um estudo nos Estados Unidos mostrou que 60% das barreiras à partilha advém da FALTA DE CONFIANÇA:
- CONFIANÇA: 30% – Aquilo que eu emprestar pode perder-se ou ser extraviado/roubado;
- CONFIANÇA: 23% – Eu posso não confiar outros na rede;
- CONFIANÇA: 14% – A minha privacidade pode ficar comprometida;
- VALOR: 12% – Não vale a pena o esforço;
- QUALIDADE: 12% – Os bens / Serviços podem ser de fraca qualidade;
- OUTROS: 9%.
ESTRATÉGIAS ADOTADAS PELAS COMPANHIAS NA ECONOMIA DE PARTILHA PARA GARANTIR A CONFIANÇA:
Modelo das 5 Estrelas | Modelo das 5 Estrelas |
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Modelo Percentual | Modelo Qualitativo |
*Duas formas de classificação da reputação dos intervenientes numa permuta: |
- AVALIAÇÃO / CLASSIFICAÇÃO: Modelo das 5 Estrelas – ao aplicar uma classificação que caracterize o GRAU DE SATISFAÇÃO com a QUALIDADE DA TRANSAÇÃO em todos os negócios ou partilhas, permite criar uma imagem da REPUTAÇÃO (R) nos intervenientes do processo. Quanto > R > Procura e > Segurança / Confiança para novos/potenciais interessados.
- GARANTIAS DENTRO DA PLATAFORMA: salvaguardas (seguros) em caso de problemas bem como implementar um processo idóneo, bem estruturado, que permita uma correta e válida identificação dos intervenientes através de elementos verificáveis noutras instâncias paralelas (por exemplo).
- ACOMPANHAMENTO EXEMPLAR: antes da transacção garantir um correto preenchimento dos campos necessários a uma correta e transparente metodologia uma vez que o negócio acontece no momento.
- LIGAR OS INTERVENIENTES ATRAVÉS DO FACEBOOK: permite a ambas as partes conhecerem melhor o perfil dos outros para traçar o perfil e gera confiança. Porém, os mais inseguros ou menos confiantes acham que mesmo assim não garante a necessária informação para gerar confiança.
Existirá Confiança a Nível Local?!…
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As pessoas confiam umas nas outras para funcionar em comunidades de partilha e cooperação?
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ou Estarão as pessoas isoladas na sua sobrevivência económica?
Um estudo realizado pela “World Value Survey, Wave” desenvolvido entre 2005-2008, mostra claramente que somos um povo onde a percentagem de pessoas que consideram ou ponderam a hipótese de se poder confiar na maior parte das outras pessoas é extremamente baixo (10%). A confiança é a base da maioria das relações pessoais, que por sua vez são determinantes essenciais do bem-estar humano e desenvolvimento económico. A análise teórica e empírica mostra que, altos níveis de confiança inter-pessoal tornam muitos aspetos da vida mais agradáveis e produtivos.
FÓRMULA: Calcular o ÍNDICE DE CONFIANÇA = 100 + (% pode-se confiar na maior parte das pessoas) – (% nunca se é demasiado cuidadoso)
- ÍNDICE 100 – corresponde aos países onde a maioria das pessoas confia nas outras;
- ÍNDICE < 100 – corresponde a países onde a maioria das pessoas pensa que se deve ser cauteloso quando se lida com as outras pessoas.
Portugal 1999 Values Surveys EVS/WVS Waves 1-4 (1981-2004)
Índice de Confiança = 21,9
Ou seja, temos um longo caminho a percorrer no resgate da confiança mútua para podermos aceitar este modelo de partilha. Cooperar e trabalhar numa comum-unidade pressupõe confiança mútua, valorização do outro, da sua individualidade. Ou seja, é muito importante que, através do “Desenvolvimento Pessoal” possamos reaprender a confiar em nós próprios e depois nos outros.
EXPERIÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO NOS ANOS 60:
A Drª Maria Manuela Silva esteve presente na Comemoração do 50.º aniversário da experiência de desenvolvimento comunitário na Benedita.
Afirmou que a escolha da Benedita deveu-se a alguns aspetos:
- O facto de ter tido conhecimento de um estudo feito sobre a zona oeste da Serra dos Candeeiros;
- O contacto com a dissertação da socióloga, Maria Susana Gaspar de Almeida, intitulada “A condição da mulher numa paróquia rural de Portugal – Benedita”;
- O relacionamento da Drª Maria M. Silva com o Cónego Serrazina que, tal como ela pertencia ao movimento de Ação Católica, e que desempenhou na perfeição o papel de intermediário com a população, devido ao seu carisma e espírito de liderança;
- Foi também importante o conhecimento que teve (a sua equipa), do Espírito Colaborativo da População Beneditense, que se tornou bem visível na construção da nova igreja;
- Finalmente teve conhecimento da existência de atividade artesanal, que também pesou na escolha.
Este desenvolvimento comunitário, embora apelidado de cooperação e colaboração, tinha subjacente o modelo da competição económica e preparou os beneditenses para uma mentalidade competitiva e economicista, necessária na altura através do trabalho colaborativo. Questões que importam responder:
- Qual é a Pegada Ecológica da Freguesia da Benedita (Ou outra qualquer freguesia?)?
- Qual o Índice Local de Felicidade?
- E o Índice de Confiança?
Maria Manuela da Silva, “Bases de um processo de Desenvolvimento Comunitário”: PDF.
Entrevista a Maria Manuela da Silva, “Esta Crise pode dar um novo rumo ao desenvolvimento!”: PDF.
Conclusão
Torna-se necessário resgatar os valores do Espírito Cooperativo e Colaborativo Orgânico e Sustentável se queremos construir uma Comum-Unidade e uma Economia Colaborativa Sustentável.
Pode-se conciliar as novas tecnologias com um local físico para depósito dos itens que se quer partilhar ou trocar. Este local físico permitirá aos associados / parceiros observarem os produtos (tangível) e decidir se desejam a permuta.
Este “Armazém” (Depósito) de produtos (Bens permutáveis novos ou em 2.ª mão), e “Serviços” (Economia do Tempo) permitiria aos associados registarem-se e registarem tudo aquilo que desejariam colocar à disposição dos outros na comunidade local. Colocar-se-iam várias hipóteses para os membros da COOPERATIVA LOCAL de ECONOMIA de PARTILHA (CLEP):
- Partilhar Veículos de Transporte (Deslocação);
- Partilhar ou Alugar Veículos Usados, Novos ou Doados;
- Partilha de Bicicletas;
- Permutar Objetos / Bens;
- Permutar alimentos (de preferência ecológicos);
- Oferecer Tempo – “Tempo como Dinheiro” (Moeda Base Tempo);
- Partilhar Terrenos para Cultivo – “Landsharing“;
- Bancos de Sementes;
- Serviços sociais e comunitários;
- Limpeza de matas e florestas;
- Manutenção do espaço e equipamento;
- etc… Muitas outras ideias…
Todos os processos seriam classificados e os cooperantes teriam uma “Reputação” em função de vários indicadores de CONFIANÇA & REPUTAÇÃO. Esta última tornar-se-ia na “moeda” mais poderosa da história do crédito no século XXI. O “Capital Reputação” representa as intenções, capacidades e valores nas comunidades e locais de mercado. É a emergência da “Sabedoria Prática” ou a vontade moral de fazer a coisa certa pelos motivos certos. Será o nosso “Rasto Eletrónico” ou “Pegada Reputacional” que nos irá permitir ter mais ou menos credibilidade, suscitar mais ou menos confiança nos nossos pares, quando se trata de escolher parceiros para permutas ou partilhas de bens e serviços.
A Medida da Confiança = REPUTAÇÃO: é a soma daquilo que um indivíduo ou comunidade pensa de nós. Este modelo promove uma grande mudança na confiança a qual migra das instituições para os indivíduos (confiança entre pares), e a moeda desta nova economia será a “Confiança Entre Estranhos” ou “Micro-Empreendedores” que baseiam as suas transações tendo como base as Novas Tecnologias (P2P – Par-a-Par | Peer-to-Peer).
SÉCULO XX | SÉCULO XXI |
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HIPER CONSUMO = Crédito + Publicidade + Propriedade Individual. | CONSUMO COLABORATIVO = Reputação + Comunidade + Acesso Partilhado |
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*Duas formas de perspectivar as relações socio-económicas. |
BIBLIOGRAFIA:
- Michel Bauwens, P2P Foundation (2012); “Synthetic Overview of the Collaborative Economy”; P2P Foundation; PDF;
- European Comunity, Business Innovation Observatory, “The Sharing Economy – Accessibility Based Business Models for Peer-to-Peer markets”, Case Study; PDF.
- NESTA – COLLABORATIVE LAB – making sense of the uk collaborative economy: PDF;